SÃO PAULO - Em meio à toda polêmica sobre se existe ou não uma bolha, o diretor de fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles, descartou que haja uma bolha imobiliária no Brasil e refutou argumentos de que o País caminhe para uma crise como a ocorrida nos Estados Unidos.
“Não há bolha imobiliária no Brasil. Não temos elementos que caracterizem bolha”, afirmou. Meirelles destacou que não existe segunda hipoteca no Brasil e que mais de 90% dos imóveis é para moradia própria e que o crédito imobiliário no País, se comparado a outras economias, ainda é pequeno.
O diretor ainda explicou que, se os preços dos imóveis caíssem 33% de um dia para o outro, não haveria uma insolvência do sistema, conforme simulação feita pela autoridade monetária. E destacou que o aumento dos preços dos imóveis tem sido compatível com o crescimento da renda, sem descolamento.
Em evento em São Paulo, outro dirigente do Banco Central reforçou a tese de que não há evidência de movimento de especulação em imóveis, apesar da alta de preços. De acordo com o índice Fipe Zap, o preço anunciado do metro quadrado subiu 13,1% em apenas 12 meses. "Não é comum alavancagem com investimento imobiliário no Brasil", afirmou Sérgio Odilon, chefe de Unidade DENOR - Departamento de Regulação do Sistema Financeiro.
O estudo
Os bancos brasileiros teriam capacidade para resistir ao impacto de uma forte queda nos preços de imóveis residenciais, indicou simulação divulgada pelo Banco Central, no Relatório de Estabilidade Financeira. De acordo com o relatório, a simulação foi feita devido à importância da oscilação de preços de imóveis para a estabilidade financeira.
Segundo o diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, a simulação foi feita com base na queda de preços de imóveis nos Estados Unidos, que gerou a crise financeira internacional, iniciada em 2008.
Conforme o relatório, apesar de, em tempos de normalidade, o valor da venda do imóvel em leilão pelo banco cobrir quase totalmente o valor do empréstimo do inadimplente, o dinheiro recuperado pela instituição financeira após o pregão equivale a apenas 70% do preço da residência.
Com isso, só se considera insolvência (perda total do capital principal da instituição) de algum banco se houver queda de 55% no preço dos imóveis. E, para que houvesse desenquadramento de algum banco em relação às regras de exigência de capital, teria que ocorrer queda de 45%.
“Ambos os choques são maiores do que a queda acumulada, ocorrida em um período de três anos, entre os valores máximo e mínimo dos imóveis residenciais nos Estados Unidos durante a recente crise do subprime [créditos de alto risco vinculados a imóveis, com garantia insuficiente, o que desencadeou a crise financeira] de 33%”, diz o relatório.
O estudo do Banco Central ressalta que o sistema financeiro como um todo não ficaria desenquadrado das regras de exigência de capital, mesmo em casos extremos de desvalorização.
De acordo com a instituição, um dos fatores que explicam a resistência dos bancos é que, no Brasil, geralmente, o imóvel não é totalmente financiado pelo banco. Então, uma parte do imóvel já fica paga. Além disso, o relatório destaca que o sistema de amortização constante), que é o mais usado, permite redução mais rápida do SAC, o saldo devedor do que outros sistemas conhecidos, como o Price. Outro fator é que os bancos fazem provisões (recursos reservados para o caso de inadimplência) superiores ao mínimo regulamentar. O BC também considera que a capitalização do sistema financeiro está em níveis elevados.
(Com Agência Brasil)